Data 09/11/2015
© Nasa Estrela: Jason Wright acreditava que ETs estavam capturando energia do astro
O sistema estrelar KIC 8462852 ficou conhecido no mês passado após Jason Wright, astrônomo da Universidade
Penn State, sugerir que o padrão de luz da estrela evidenciava escurecimento incomum de 20%.
Para Wright, esse dado significava que uma estrutura com painéis solares foi construída em torno da estrela – e que foi arquitetada por alienígenas para captar energia do astro.
A fim de investigar esse comportamento pouco comum da KIC 8462852, o Instituto Seti utilizou o Telescópio Allen Array para examinar a estrela. O aparelho tem 42 antenas, cada uma com seis metros de altura.
Durante duas semanas, as antenas procuraram sinais com frequências entre um e dez GHz – que seria consistente com as emissões de alienígenas usufruindo a energia de uma estrela. Além disso, os cientistas enviaram “sinais de saudações”, de ordem de 1 Hz de largura, para a estrutura. O objetivo era fazer contato com os supostos ETs.
Porém, os pesquisadores não obtiveram sucesso. “A história da astronomia sempre nos mostra que, cada vez que pensávamos que tínhamos encontrado um fenômeno extraterrestre, estávamos errados”, observa Seth Shostak, astrônomo do Seti, em um comunicado.
Apesar de os resultados não revelarem a presença de alienígenas na estrela, o comunicado do instituto nota que há um sinal de significante baixa frequência apontado na direção da Terra que ainda não foi estudado.
No entanto, a falta de uma detecção na faixa de frequência de microondas sugere que o objeto é, provavelmente um evento natural e, não, artificial. Assim, a teoria que Tabetha Boyajian, astrônoma da Universidade de Yale (EUA), apresentou em setembro sobre a possibilidade de que a estrutura foi originada por uma chuva de cometas, parece ser a mais correta.
Data 07/11/2015
Como as baratas podem ajudar a salvar vidas humanas
Insetos que fogem assim que você entra em uma sala e acende as luzes, as baratas geralmente são associadas a ambientes sujos. Mas elas estão despertando o interesse de mais do que empresas de dedetização: têm inspirado pesquisas em antibióticos, robôs e próteses para membros perdidos.
Em Havana, a barata cubana, inseto nativo de cor verde, é tida como um bicho de estimação e o inseto até aparece em histórias folclóricas.
Entre as 4,5 mil espécies de baratas conhecidas no mundo, apenas 4 são consideradas pragas.
A maioria delas não vive perto de residências de humanos e tem um papel ecológico importante, comendo matéria morta ou em deterioração.
Algumas espécies têm cores vivas e desenhos. Algumas são criaturas sociais e tomam decisões coletivas. Outras formam pares e criam os filhos juntas. Outras são sozinhas.
Elas podem emitir silvos, cantar e fazer sons percussivos para atrair um parceiro e sobrevivem às condições mais difíceis com pouca comida durante meses. Uma espécie, aEublaberus posticus, pode sobreviver por um ano consumindo apenas água.
A mais pesada delas, a barata rinoceronte, vive no subterrâneo, chega a pesar 35 gramas, mede 8 centímetros e vive na Austrália. Uma das menores é uma praga encontrada na Europa e na América do Norte, a barata alemã, com apenas pouco mais de um centímetro.
Uma das curiosidades é que borra de café é usada com frequência como isca em armadilhas para estes insetos.
Cientistas têm nas baratas uma fonte de inspiração. Em 1999, essas criaturas inspiraram Robert Full, professor na Universidade da Califórnia em Berkeley, a criar um robô de seis pernas que se movia mais rápida e facilmente do que qualquer outro robô.
Em sua palestra de 2014 na conferência TED, Full explicou como as patas elásticas, a forma corporal arredondada e os exoesqueletos flexíveis - feitos a partir de tubos conectados e placas - permitem que estes robôs se movimentem em terrenos mais complexos.
As patas das baratas também estão dando ideias a cientistas dedicados a criar a próxima geração de próteses de perna para humanos - a mecânica que dá elasticidade para as patas dos insetos é a base para a capacidade de uma prótese de mão mecânica de conseguir agarrar.
O objetivo, segundo Robert D Howe, do Laboratório de Biorrobótica de Harvard, é produzir uma mão que "deslize pelos objetos até envolvê-los, como uma mão humana levantando uma xícara de café".
E há também a barata robótica: uma fusão de uma barata viva e um minicomputador, cirurgicamente preso às suas costas. A partir de mensagens do minicomputador, a barata pode ser direcionada para lugares aos quais os humanos dificilmente teriam acesso, como prédios que desabaram ou canos de esgoto arrebentados. Ali as baratas podem coletar dados.
"Na primeira vez que vi essas baratas fiquei de cabelo em pé", disse Hong Liang, pesquisadora-chefe do projeto na Universidade A&M do Texas. "Mas acabei ficando com algumas delas em meu escritório, como bichos de estimação, por um tempo. Na verdade elas são criaturas belas. Elas se limpam constantemente."
Em junho, estudantes da Universidade Jiao Tong, de Xangai, na China, demonstraram como conseguiam controlar baratas com o pensamento. Traduzindo as ondas cerebrais em impulsos elétricos, eles conseguiram direcionar uma barata, com um receptor preso a ela, por vários túneis.
Na medicina também há pesquisas relacionadas a baratas. Há tempos os cientistas se perguntam como as baratas passam a vida em ambientes sujos e sem problemas de saúde.
As baratas produzem o próprio antibiótico - e é um antibiótico poderoso.
Com isso, elas podem ser cruciais no desenvolvimento de remédios para enfrentar bactérias como E. coli (que causa intoxicação alimentar), MRSA (que causa infecções na pele) e outras que são resistentes a muitos dos tratamentos atuais.
Curar com baratas não é algo novo. No século 19, o jornalista e escritor Lafcadio Hearn reparou em alguns tratamentos durante uma viagem pelo sul dos EUA.
"Eles dão chá de barata contra o tétano. Não sei quantas baratas são usadas para fazer uma xícara, mas descobri que a fé neste remédio é forte entre muitos membros da população americana de Nova Orleans", escreveu ele.
Hoje, alguns hospitais da China usam um creme feito com pó de baratas para tratar queimaduras e, em alguns casos, um xarope de baratas é ministrado a pacientes para aliviar os sintomas de gastroenterite.
Quando Wang Fuming percebeu que a demanda por insetos estava crescendo na Província de Shandong, no leste do país, ele abriu uma fazenda de baratas. Mantém 22 milhões destes insetos em abrigos subterrâneos e diz que, desde 2010, o preço das baratas secas aumentou dez vezes.
Os insetos também podem ser comidos. A barata americana é uma iguaria na China.
Ao fritá-la duas vezes em óleo quente, a barata ganharia uma casca crocante e um interior suculento, com a consistência de queijo cottage. Uma pitada de pimenta dá um sabor ainda mais marcante, dizem os apreciadores.
Com o crescimento da população humana e da demanda por proteína, talvez a barata seja o futuro da alimentação mundial. Se as pessoas forem mais liberais.
Data 06/11/2015
Data: 05/11/2015 - 10:15 h.
'Aplicativo dá poder a vítimas de ofensas virtuais'
"Racismo", "linda" e "vítima" são algumas das palavras mais usadas nas redes sociais nesta semana em comentários sobre o episódio de preconceito virtual contra a atriz Taís Araújo. O teor, quantidade e localização das discussões são rastreados por um aplicativo de internet pioneiro desenvolvido pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e que deve ser lançado ainda neste mês.
Em fase de testes, o Monitor dos Direitos Humanos faz uma varredura de palavras-chave relacionadas a negros, população LGBT, indígenas e mulheres, e consegue identificar, em tempo real, mensagens de ódio, preconceito e intolerância reproduzidas no Twitter, Facebook e Instagram.
O projeto financiado pelo Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos permite que os usuários e gestores públicos tenham um panorama das violações sofridas por "grupos minoritários" na internet, diz Fabio Goveia, um dos desenvolvedores do aplicativo.
"É um monitor permanente e em tempo real. Para além da lógica da perseguição ao agressor, o objetivo primordial é resguardar os agredidos desse tipo de comportamento. Os pesquisadores conseguem verificar quais são as pessoas ou grupos em risco, e os gestores públicos podem acompanhar as principais temáticas em evidência", explica Goveia, que é um dos coordenadores do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Ufes, referência internacional em pesquisas sobre redes sociais.
O aplicativo, elaborado com tecnologia aberta por uma equipe de cerca de 30 pesquisadores, pode ser acessado por qualquer computador ou dispositivo móvel. A ferramenta permite que o usuário acompanhe a evolução das publicações nos últimos 15 minutos, nas últimas 24 horas ou nos últimos sete ou 15 dias.
Em entrevista à DW Brasil, o especialista rejeita críticas sobre um possível "vigilantismo" e ressalta que a finalidade não é identificar os autores das ofensas: "Queremos empoderar as vítimas."
DW: Como o Monitor de Direitos Humanos vai rastrear mensagens ofensivas nas redes sociais?
Fabio Goveia:O monitor permite que os usuários acompanhem em tempo real quais são as principais temáticas ligadas aos direitos humanos que estão circulando nas redes sociais. Ele funciona a partir das publicações feitas pelos usuários nas principais redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram. Ao longo de um ano de pesquisa no laboratório, acompanhamos as temáticas estabelecidas pelo governo – violação de direitos humanos ligados a mulheres, indígenas, população LGBT e negros – e formamos um léxico com as principais palavras-chave relacionadas a esses temas. Esse material alimenta um sistema computacional complexo, formado por 15 softwares desenvolvidos na universidade, que filtra as discussões. O aplicativo varre as redes sociais automaticamente e localiza essas palavras. O mapa tem a lógica do georreferenciamento, então, é possível saber de qual estado estão partindo comentários ofensivos ou de apoio e qual é a intensidade deles.
Quais são as principais palavras-chave?
São algumas milhares. As básicas, que vão servir para uma primeira captura, são as mais elementares. Na temática "negros", por exemplo, temos "racismo", "preto", "preconceito". Em "mulheres", temos "machismo", "feminino", "feminazi", que evolui para outros termos como "empoderamento", "agressão", "ódio". Acompanhamos, por exemplo, o caso da blogueira feminista Lola Aronovich, que repetidamente recebe ameaças. Ela acabou aparecendo no nosso monitor. Conforme os pesquisadores acompanham as temáticas em evidência, eles adicionam novas palavras para que o filtro fique ainda mais refinado. Chamamos esse processo de modelagem humano-computacional. É uma iniciativa que, se não pioneira, é uma das mais avançadas de que temos notícia com esse grau de precisão.
O aplicativo permite que os autores dos comentários ofensivos sejam identificados?
Trabalhamos com o princípio da anonimização. Identificar os autores não é uma atribuição da nossa ferramenta. O foco principal é preservar as vítimas que são alvos de ofensas nas redes. Para além da lógica da perseguição ao agressor, o objetivo primordial é resguardar os agredidos desse tipo de comportamento. A partir da ferramenta, os pesquisadores conseguem verificar quais são as pessoas ou grupos em risco, e os gestores públicos podem acompanhar quais são as principais temáticas em evidência. O monitor não está inserido na lógica policialesca ou punitiva. É, pelo contrário, uma ferramenta de empoderamento das vítimas. Na página, há um link para o site do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, que possui um mecanismo online de denúncias.
O governo pode ter acesso aos dados dos agressores virtuais?
O governo pode usar o dispositivo como um complemento para poder tomar decisões de maneira mais rápida e precisa. Nossa preocupação essencial é contribuir para a construção de uma cultura de maior tolerância nas redes sociais. Esperamos que o convênio com o governo seja estendido para ampliar o escopo de cobertura, porque também há outros grupos em risco. Um dos primeiros temas que investigamos é ligado à cultura da violência. Em agosto, quando ocorreram as chacinas na Grande São Paulo, por exemplo, a temperatura dos comentários no mapa do aplicativo dizia que algo estava ocorrendo naquela região.
Qual é a previsão de lançamento?
A gente espera que toda a sociedade tenha acesso. Ainda são necessários alguns ajustes com o governo, por causa das mudanças no ministério. Aguardamos um sinal verde sobre se e como a ferramenta será disponibilizada. O convênio prevê a entrega até o fim de novembro, e vamos cumprir o prazo. Mas quem fará a divulgação oficial será o ministério.
Houve críticas ao projeto devido à parceria com o governo?
Essa não é uma proposta oportunista. Acabamos sendo alvo nas redes sociais de grupos que enxergam nesse projeto uma ameaça. É uma ferramenta para a sociedade, para proteger todos aqueles que circulam nas redes sociais. O projeto foi pensado antes mesmo da reeleição da presidente Dilma Rousseff. Até celebridades nos criticaram dizendo que isso segue uma lógica vigilantista. A cultura de ódio, racismo e desconstrução das pessoas continua existindo. Esperamos contribuir para modificar esse panorama.
Autor: Karina Gomes
Edição: Rafael Plaisant